Entrevista com Tetsuo Kurata

>> segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Entrevista com o ator Tetsuo Kurata, o Minami Kôtarô (Kamen Rider Black/RX), publicada na revista Hyper Hobby Vol.122 (Edição de Novembro), em comemoração ao futuro lançamento do boneco RAH Minami Kôtarô (Medicom Toy).

HH: Primeiro, nos fale sobre a impressão do boneco.
Kurata: Hum, maravilhoso! Estou impressionado que tenham conseguido captar bem as minhas características. Só que até aqui, sinto que ainda não é um belo homem (Risos). O rosto também está bem afiado (Risos). Os olhos também são parecidos. Eu tinha um olhar assim. Depois, as orelhas. Minhas orelhas chamam a atenção. Até nesse aspecto ficou parecido.
HH: A roupa também está caprichada até nos mínimos detalhes.
Kurata: Maravilhoso! Na época do RX, eu mesmo fui comprar a roupa.
HH: Você diz essa roupa branca?
Kurata: Essa mesma. Dentro de mim, existia essa imagem do branco. O preto realça a sujeira, e o protagonista acabaria ficando ofuscado.
HH: Qual a impressão que você teve ao receber o papel de Minami Kôtarô?
Kurata: Isso foi além do que eu poderia imaginar. Isso porque eu jamais pensava que seria aprovado. Quando reuniram os candidatos, no estúdio da Toei, para a última seleção, havia umas pessoas que eu sentia já ter visto na TV. Eu estava com 18 anos e tinha acabado de me formar no colegial. Vocês podem achar estranho, mas intuitivamente eu pensei, “vai ser eu”. Naturalmente eu não tinha autoconfiança tanto na interpretação como na ação. Só que aí eu pensei, quem sabe a partir de agora eu comece a frequentar aqui (Toei). Eu quase não senti nervosismo, acho que por ter mudado de atitude.
HH: Então, iniciada as filmagens, qual a cena que ficou marcada pra você?
Kurata: Foi no terreno da Indústria Metalurgica de Takasaki (Takasaki Kinzoku Kôgyô), uma locação bem famosa em tokusatsu. Eu odiava esse lugar. Havia muita poeira no ar, e mesmo usando máscara, você acabava inalando. Tive que fazer cenas de ação nesse lugar. Dentro do meu nariz devia estar tudo preto. Realmente foi dureza. Só de andar, já levantava poeira. As filmagens eram realmente muito severas, acho que eu emagreci uns 10 quilos, desde o início. Psicológicamente também foi difícil.
HH: Perder 10 quilos, realmente não é pouca coisa.
Kurata: Acho que eu não tinha nem 55 quilos. Mesmo ao tentar fazer a pose de transformação, não saía no ato, e as vezes o meu corpo acabava vertendo. Por estar leve, a minha pisada acabava não surtindo efeito.
HH: Acho que a pressão psicológica era muito grande, não?
Kurata: Com uma série Rider ressurgindo após 6 anos, tinha o pensamento em fazer bem feito, afinal de contas fui o escolhido dentre muitas pessoas, e a produção até dizia pra mim, que se a série ia acabar com “1 cours” (13 episódios) ou “2 cours” (26 episódios), dependia apenas de mim. Só que isso acabava surtindo efeito contrário dentro de mim, me dando mais força. No começo, eu fiquei atordoado com a mudança brusca do cotidiano e nem conseguia dormir de noite. E como eu também cantava o tema, frequentava aulas de canto durante os intervalos das gravações. Mas já que eu comecei, se não cumprisse o período previsto de 1 ano, seria muito vergonhoso pra mim. O jeito era me esforçar, incitando a mim mesmo. Acho que o Kôtarô sempre gritava algo como “Yurusaan!” (Não perdôo!), mas aquilo era o “meu” grito (Risos). Como se eu estivesse dizendo algo como “não me menospreze!”. Afinal de contas, eu era um rapaz novinho de 18 anos, que estava começando a fazer ação em filmagens. Não me menospreze, viu? Com certeza eu vou fazer desta obra um sucesso!, era uma das coisas que eu bradava dentro de mim.
HH: Iniciada a exibição, qual foi a reação dos fãs?
Kurata: Quando havia se passado meio ano após a estréia de BLACK, eu participei do quadro “Ii Otoko Corner”, do programa “Waratteiitomo!”. A partir daí a audiência subiu e eu acabei me transformando em ídolo. Não podia mais sair na rua.
HH: Na vida privada, você não costumava sair muito, certo?
Kurata: Bem, na época realmente era corrido, quase não tinha folga, e como o transporte de todos até o local de gravação era feito de ônibus, mesmo que a minha participação acabasse logo, eu não tinha como ir embora se as outras filmagens não acabassem (Risos). Por isso, as vezes eu acabava dormindo no ônibus mesmo. Ao voltar pra casa, após encerrada todas as gravações, já era 1 hora da madrugada. E como tínhamos que nos reunir no estúdio, às 6 da manhã do dia seguinte, mesmo voltando pra casa eu só conseguia dormir 3 horas. Sendo assim, eu me hospedei no estúdio mesmo. Foram dois anos levando essa vida. Dependendo da locação, dava pra perceber a popularidade do BLACK. Entre os episódios 1 e 2, a locação foi num lugar bem movimentado como a avenida Omotesandô. Era uma filmagem feita à distância, que mostrava eu e a Kyôko (Akemi Inoue) andando pelo bairro de Harajuku, mas de uma hora pra outra, acabamos ficando rodeados de pessoas e a gravação teve que ser interrompida. Ou então, só filmagens no interior das montanhas (Risos). Numa filmagem real, uma vez chegaram pra mim e disseram, “vai, entra nesse brejo”. Pô, um lugar evidentemente fedorento, em que dá até pra ver as larvas boiando (Risos). Aí eu disse, “tá brincando, tá brincando né?” (Risos). Tá certo que no script é uma cena em que o Kôtarô está todo maltrapilho, mas porque tem que ser exatamante num brejo? (Risos). Aí quando eu disse, “Por favor, façam a cena em outro lugar”, eles me responderam o seguinte, “Mas pra quem está assistindo não é interessante. Fica legal sair daí (brejo)”. Paciência, tive que fazer. Claro que eu fiz cara feia, mas “se é assim que é bom, que seja”. Mesmo nas cenas de explosão, a nuvem de areia é espantosa, já que se coloca cimento dentro dos explosivos. Era só correr em linha reta, mas eu mal conseguia enxergar adiante. Como era filmado de longe, nem precisava ter sido eu, que não ia ter problema (Risos). O cabelo poderia acabar se queimando. Quando é no verão, sempre despejo água na cabeça. Se não fizer isso, meu cabelo fica todo espetado. Eu mesmo tinha que fazer as cenas de ação. Vendo o script, tinha cenas que eu achava que entraria o dublê, mas na hora da gravação dessas cenas, eu via o meu dublê, Jirô Okamoto, relaxando na boa, sem tirar o agasalho. Pô, então eu é que tenho que fazer? (Risos). E ao perguntar, “O Jirô não vai fazer?”, eles me respondiam, “Não, isso o Kurata consegue!” (Risos).
HH: Atualmente, além do ofício de ator, você está administrando uma “Steak House”?
Kurata: Sim. Chama-se “Billy The Kid”, mas isso porque eu era conhecido do dono (shachô), pois vivia frequentando o local desde os tempos do colégio. Como ficava aberto até às 3 horas da madrugada, ia sempre após terminar as gravações do BLACK. Quero que muitas pessoas apreciem uma saborosa carne, e por um preço baixo, e a partir de fevereiro eu estarei na filial de Tôyôchô. Se tiver tempo, eu vou aparecer no estabelecimento e servir pessoalmente a carne aos fregueses. Ultimamente, a propaganda de boca-a-boca tem se espalhado, e nos feriados tem aparecido muita gente.
HH: Por fim, deixe uma mensagem aos fãs.
Kurata: RX terminou, 20 anos se passaram, e o Kôtarô Minami ressurge nesta nova forma (referindo-se ao boneco). Gostaria que muitas pessoas comprassem, pois afinal de contas, se parece muito comigo. Estes olhos são os mesmos olhos calorosos que eu tinha na época. Acho que todos vão querer, né? Porque eu quero!

Entrevista com o ator Tetsuo Kurata, o Minami Kôtarô (Kamen Rider Black/RX), publicada na revista Figure-Oh No.128 (Edição de Outubro), em comemoração ao futuro lançamento do boneco RAH Minami Kôtarô (Medicom Toy).

“Shintai ga ugoku uchi ni 20 nengo no Minami Kôtarô o enjitemitaindesu.”
(Gostaria de interpretar um Kôtarô Minami, após 20 anos, se eu ainda conseguir mover o meu corpo)

FO: Vinte anos se passaram após o “Kamen Rider BLACK RX”, mas como sempre você continua esbelto!
Kurata: Bem, estou me esforçando com afinco para isso (Risos). Tento me manter bem jovem, para não estragar a imagem do Kôtarô Minami, para aqueles que me vêem em eventos.
FO: Vendo esta figura te faz recordar lembranças daquela época?
Kurata: (Espiando o rosto do boneco) Realmente, essas rugas entre as sobrancelhas é o básico (Risos). O que me deixou espantado foi a parte de trás do cabelo. A aparencia um tanto pontuda das orelhas realmente ficaram bem parecidas. Trabalho de profissional mesmo. “BLACK”&“RX” são como um tesouro pra mim, e sair uma figura desse nível me deixa muito feliz. Entregá-la nas mãos de várias pessoas é algo que não tem preço.
FO: Kurata-san realizou o “debut” como Kôtarô Minami aos 19 anos, né?
Kurata: Na época, com o ressurgimento dos Riders após o intervalo de 6 anos, participei de um gigantesco audition e fui o escolhido, mas os produtores diziam que se desse má audiência, a série seria cancelada, e a cada vez que esse tipo de conversa chegava aos meus ouvidos, isso era tudo o que eu queria evitar. Eles viviam me dizendo coisas como, “Como a sua interpretação é fraca, talvez a série acabe com 1 cours (13 episódios)”. Na dublagem também, diziam “Kurata, solte a voz um pouco mais do seu interior!”, até me fazendo correr uma ou duas vezes ao redor do estúdio. Dois anos passando por isso, e agora vejam o resultado, né? (Risos).
FO: Como consequência disso, você acabou interpretando o protagonista mais duradouro de todos os Riders.
Kurata: Desde a minha estréia, cheguei a interpretar inúmeros papéis ao longo desses 20 anos, mas na época, a imagem do “Kamen Rider Tetsuo Kurata” era mais forte. Não vou mentir pra vocês, mas como ator, teve uma fase que eu queria apagar logo essa imagem. Porém, ela é especial para mim. Não para o ator Tetsuo Kurata, mas para o herói Kôtarô Minami. Para os fãs de tokusatsu, “BLACK”&“RX” ainda é um herói que dá no que falar. Pra mim, é o meu ponto de origem, e até acho que estas obras abriram caminho para as séries Rider da era Heisei (Heisei Rider Series). ...Só que os Riders de agora são muito “doces”! (Risos). Não que nesses tempos possa de tudo, mas Rider fraco, com brinco e cabelo comprido é inadmissível! Realmente, herói tem que ser vistoso. Na minha época era bem mais severo. Me faziam entrar num brejo imundo, correr das explosões de bomba napalm, ficar com o cabelo todo desarrumado... (Risos).
FO: O seu Kôtarô Minami é um herói que ainda tem muita coisa a ser contada.
Kurata: O que eu vou falar pode ser um desejo irrealizável, mas gostaria de fazer uma história de um Kôtarô Minami após 20 anos, nem que fosse apenas 1 cours (13 episódios) no período da madrugada. Aí eu conversaria com a Atsuko Takahata (Marie Baron) e o Rikiya Koyama (Kasumi no Joe).
FO: Gostaria muito de ver isso!
Kurata: Se é algo realizável, vai depender da reação de todos os leitores. Isso porque o Kôtarô Minami havia dito “Mata Kaettekuru yo” (Ainda vou voltar). Por favor, escrevam algo como “O Kurata ainda consegue se mover. Sem problemas, ele está se exercitando bem” (Risos). Dias atrás o Jirô Okamoto (ator/suit-actor) me disse o seguinte, “Kura-chan, eu sempre estive envolvido com Riders, mas realmente BLACK, RX são obras formidáveis. O investimento financeiro também é extraordinário, e o conteúdo bem empolgante”. O Jirô-san também fez a sua estréia no “BLACK”, e ainda continua na ativa, certo? Então, se houvesse uma história 20 anos depois, ele disse que também gostaria de participar.
FO: São palavras fortalecedoras, essas. Desejo que esse projeto se realize em breve, e que possamos nos encontrar novamente com o Kôtarô Minami!